Por Jorge Miklos*
Novembro é o mês do “Novembro Azul”, um movimento mundial cujo objetivo é chamar a atenção a respeito da importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata. A doença é o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens brasileiros. As maiores vítimas são homens a partir dos 50 anos, além de pessoas com presença da doença em parentes de primeiro grau, como pai, irmão ou filho. Se o diagnóstico for precoce há grandes chances de cura. Porém, o cuidado com a próstata é cercado de muitos estigmas e preconceitos. Por isso, o movimento procura conscientizar os homens a cuidarem mais e melhor da sua saúde física, mental e emocional, pois, mente e corpo são interdependentes. Esse é conceito de saúde integral.
O documentário “O silêncio dos homens”, disponível gratuitamente no
Youtube, fruto de uma pesquisa que envolveu mais de quarenta mil
pessoas, revela que a cada dez homens, seis lidam com distúrbios físicos
e emocionais tais como ansiedade e depressão, vícios como álcool e
demais drogas. Apesar disso, os homens evitam buscar ajuda. Apenas um
em cada dez afirma ter procurado um médico ou psicólogo.
Não
cuidar da saúde integral alinha-se ao conceito chamado de “A Caixa do
Homem”, uma série de comportamentos esperados do desempenho masculino.
No que tange a saúde, 57% dos homens afirmaram terem sido ensinados
durante a infância e adolescência a não expressar as suas emoções e 73%
responderam que devem ser fisicamente fortes e não demonstrar fraqueza.
Somente dois a cada dez homens, dizem ter tido exemplos práticos de como
lidar com as suas emoções.
Quando os homens precisam se
conformar a um padrão social tóxico, terminam adotando uma falsa máscara
e desempenhando papéis vazios, pois, muitas vezes existe uma distância
muito grande entre quem se é por dentro e o que a sociedade exige por
fora. Muitos homens perdem o contato com suas fontes interiores de
vitalidade e alegria adoecendo insidiosamente.
O movimento
feminista expressou de forma eloquente os problemas que as mulheres
vivem em meio à masculinidade tóxica. Mas, a julgar por quantos homens
infelizes e doentes existem, viver no mundo patriarcal também faz mal ao
masculino. Cuidar da saúde integral de forma madura e responsável é um
excelente caminho para combater a restrição emocional e as doenças que
derivam dela.
* JORGE MIKLOS (Sociólogo e psicanalista. Desenvolve uma pesquisa sobre a contribuição da mídia na construção da masculinidade tóxica no Brasil.
Fonte GALILEU