SEE Learning: A Aprendizagem Social, Emocional e Ética e por que precisamos de salas de aula compassivas

“O século 21 deve ser o século da paz e da não-violência”, disse o 14º Dalai Lama. Antes que alguém possa interpretá-lo como um otimista ingênuo, o líder espiritual tibetano de 84 anos acrescenta que isso não significa um mundo sem problemas, mas sim um mundo onde os problemas são enfrentados através da não-violência e do diálogo. “Por meio da educação, podemos alcançar tal atitude mental”, ele diz aos repórteres em Nova Déli, antes do lançamento de um projeto que ele supervisiona de forma reservada há duas décadas.

A Aprendizagem Social, Emocional e Ética (Aprendizagem SEE) – uma abordagem descrita como uma educação para o coração e a mente – é um conjunto de currículos escolares para todas os níveis da educação, desde o jardim de infância até o ensino médio, desenvolvido pelo Centro de Ciências Contemplativas e Ética Baseada na Compaixão da Universidade Emory, nos EUA, em associação com o Dalai Lama Trust. Com base no trabalho do psicólogo Daniel Goleman sobre inteligência emocional no início dos anos 90, a Aprendizagem SEE foca no desenvolvimento do pensamento crítico, no raciocínio ético e na compaixão, e enfatiza as semelhanças presentes na humanidade comum e não nas diferenças encontradas nos níveis mais superficiais.

Lançamento: O líder espiritual tibetano, o Dalai Lama, cercado pelo ativista e Nobel da Paz Kailash Satyarthi e o vice-primeiro ministro de Deli Manish Sisodia, no lançamento do currículo SEE Learning em Deli.
 

Sua abordagem não-sectária torna o programa universalmente relevante e adaptável a diversas configurações culturais. “Enquanto uma aula sobre discriminação pode ser ensinada através das lentes dos refugiados na Europa, ela pode também partir de exemplos locais do sistema de castas ou o patriarcado para explorar a mesma aula na Índia”, disse Brendan Ozawa-de Silwa, diretor associado da Aprendizagem SEE . “Não se trata apenas de dizer às pessoas para serem gentis. Os alunos investigam e, por meio do pensamento crítico, constatam que é mais produtivo ser gentil e compassivo”, acrescenta Ozawa-de Silwa, que participou do lançamento em Deli.

Em uma das atividades iniciais do currículo, as crianças ficam em círculo e jogam um jogo de “entrar e sair da roda”. “Quantos de vocês são meninas?”, Pergunta o instrutor. As meninas dão um passo a frente e entram na roda. “Quantos de vocês gostam de pizza?” Os amantes de pizza entram na roda. “Quantos de vocês já se sentiram tristes?” “Ou se sentiram felizes?” Quase todas as crianças entram. Nesses momentos, as crianças olham umas para as outras e reconhecem suas semelhanças. A sessão termina com as crianças percebendo que elas têm mais semelhanças do que imaginavam.

“Como adultos, muitas vezes nos encontramos tão focados no conceito do ‘outro’ que nos esquecemos da nossa humanidade comum”, diz o acadêmico Emory.

Outra lição, desta vez sobre empatia, envolve narrar a história de um menino chamado Nelson. Um valentão da escola constantemente assedia Nelson, cortando sua bola sempre que ele vai jogar com os amigos. Nelson fica intrigado quando nota que seu professor fala com com o valentão de maneira amorosa. Ao conversar com seu professor, ele descobre que a mãe do outro menino está muito doente e seu pai os abandonou. Nelson descobre que, na realidade, o valentão está assustado e se sente solitário. No dia seguinte, ele caminha até ele e o convida para jogar bola.

Ozawa-de Silva ressalta que as crianças precisam entender o que esses conceitos significam. Tomemos a mentira como exemplo. Uma coisa é dizer às crianças para não mentirem. Outra coisa é a compreensão verdadeira – depois de semanas ou meses prátics – que a mentira leva as pessoas a perderem a confiança nelas, e por causa disso acabamos perdendo amigos. “Se eles se aprofundarem nesses conceitos, não vão perder tais valores, mesmo que o mundo exterior os convença a agir contra a sua essência”, diz ele.

O conceito agora está ganhando terreno. Aproximadamente 1,5 milhões de estudantes em escolas do governo de Deli foram apresentados ao “Currículo da Felicidade” em julho do ano passado. “Nossos esforços para ensinar emoções, valores e ética foram limitados à pregação. Mas você não pode pregar ética ”, diz o vice-primeiro ministro de Deli, Manish Sisodia. “Para este projeto, extraímos conceitos dos ensinamentos do Dalai Lama e os resultados foram incríveis ”.

Muitas das crianças nas escolas do governo pertencem a famílias pobres. O currículo ajudou-os a entender as complexas faces da pobreza e as lutas sofridas por suas famílias, acrescenta o ministro da educação.

Uma mãe, lembra-se Sisodia, ficou impressionada com a mudança que o programa provocou em seu filho – de um menino zangado que sempre busca uma briga, hoje ele verifica se há comida suficiente para ela antes de comer sua parte.

A equipe de aprendizagem da SEE está trabalhando em seguida para levar o currículo a 700 escolas tibetanas, assim como escolas em Ladakh e Sikkim. “Esta é a solução para acabar com a violência, a única solução para trazer a unidade em todos os seres humanos”, diz Sisodia. O Dalai Lama menciona a abordagem compassiva da primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Ardern, após os tiroteios na mesquita de Christchurch. “Este é o único caminho. Não há outra opção ”, diz ele.

Fonte:

Originalmente publicada em Hindu Business Line
Por Shriya Mohan em 12 de abril de 2019

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