Para celebrar o aniversário de sete anos do Fórum Diálogos, será realizado um encontro com danças, debates e rodas de diálogo, no próximo dia 12 de novembro, no Sinspire, localizado no Bairro do Recife, área central do Recife. O coletivo existe desde 2012 com a missão de fomentar a construção de uma cultura de tolerância e paz entre as mais de 12 religiões presentes no estado de Pernambuco. Como parte da programação, está a discussão sobre o tema Desafios da Intolerância e do Diálogo, tendo como palestrante o professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Carlos André Cavalcanti, além dos debatedores o professor da Unicap Gilbraz Aragão, advogada representante da comissão de Direitos e Liberdade da OAB Maria Amélia Calado e a conselheira da União do Judaísmo Reformista da América Latina Ida Katz.
“O Fórum Diálogos foi uma iniciativa de um promotor do Ministério Público de Pernambuco, que até 2011 recebia inúmeras denúncias de intolerância religiosa, sobretudo as de matrizes africanas. Como o MPPE sentia dificuldade em dar sequência aos inquéritos por falta de provas, as lideranças religiosas do estado foram chamadas a criar esse coletivo com o objetivo de enaltecer a tolerância e discutir a paz. Em dezembro de 2011, nos reunimos e em 2012 foi criado esse coletivo para apoiar e defender o direito das religiões que se sentem ameaçadas”, contou a representante do budismo tibetano em Pernambuco e membro a comissão executiva do Fórum Diálogos, Floridalva Cavalcanti. Desde então, os participantes do coletivo realizam uma série de ações, a maioria delas de cunho educativo, com palestras em escolas e debates em seminários nas universidades estaduais. “Dentro do fórum, temos representantes da área de ensino religioso da Secretaria estadual de Educação, do Museu das Religiões, entre outras instituições. E nos encontramos mensalmente para dialogar, nos contrapondo a todo sentimento de intolerância. Temos em andamento o projeto de um livro e somos membro da Comissão dos Direitos e Liberdades da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Pernambuco (OAB-PE)”, explicou Floridalva.
O Pai Edson de Omulu foi uma das vítimas da intolerância religiosa em 2017 e hoje é um dos membros da comissão executiva. “Naquele ano, um vizinho fez uma série de queixas à delegacia de polícia e ao MPPE, contra nosso terreiro em Águas Compridas, Olinda, alegando perturbação do sossego. Além disso, ele interrompia cerimônias com pedaços de pau e chegou a apagar uma fogueira que acendemos pra Xangô. E na nossa rua temos vizinhos evangélicos, católicos, espíritos e todos se respeitam, menos esse. Durante o processo, foram ouvidos não apenas os filhos de santo como também os próprios moradores da rua, que depuseram contra esse vizinho e foi pedida a condenação dele. O resultado foi a publicação de uma recomendação do MPPE para que as promotorias de justiça não acatassem esse tipo de denúncia motivada pelo preconceito”, contou Pai Edson.
Segundo o sacerdote umbanda, diante dos episódios de dor, “o fórum se tornou um bálsamo” para ele e para todo o terreiro do qual faz parte. “Quando essa violência nos atingiu e eu conheci os integrantes do Fórum Diálogos, entendi que o preconceito não apenas nos atingia. E que para realizar alguma mudança, era preciso construir em rede. Foi quando começamos a dialogar com evangélicos, espíritas, católicos e hoje são irmãos nossos, porque entendemos que cada um de nós nos encontramos com o Criador através de um nome diferente. E que é mais frutífero promover a tolerância do que reagir à intolerância. O fato de dialogarmos e frequentarmos o espaço do outro é uma forma de mostrar que é possível se olhar, se respeitar e se amar na diferença. Sobretudo neste momento que o país está vivendo, é preciso defender o direito do outro”, colocou Pai Edson de Omulu.
De acordo com Floridalva, o encerramento do encontro do dia 12, que acontece das 9h às 17h, será com o Esquentando Corações: Danças Circulares Sagradas, guiado por Gustavo Albuquerque, e com uma cerimônia do Hare Krishna. “Nós acolhemos religiões, movimentos espiritualistas e pessoas da sociedade que tenham como propósito a cultura de paz. E as danças circulares representam essa comunhão porque são movimentos milenares, tradicionais da humanidade”, explicou Floridalva.
Fonte: Diário de Pernambuco